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O Brasil mostra sua tela

Posados, Cantados, Cavação, Chanchadas e Pornochanchadas. Nos 110 anos de história, o cinema brasileiro representou diferentes fases e estilos. Foi do melodrama à comédia caipira, de musicais a policiais. Através dele foram e ainda são representados os costumes, o povo, a língua, a música, as paisagens, enfim, a cara do Brasil.

Em 19 de junho de 1898 ao chegar da Europa no navio Brésil, Alfonso Segreto filma a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Apesar de nunca ter sido exibido, esse filme é considerado a referência mais antiga ao cinema brasileiro. A primeira exibição de cinema no Brasil aconteceu em 1896, no Rio de Janeiro e os primeiros filmes foram rodados entre 1897 e 1898. Oito anos mais tarde, os pequenos proprietários de salas de cinema do Rio e São Paulo que possuíam suas próprias equipes de filmagem, começaram a fazer os primeiros filmes “posados”: reconstituições de crimes já mostrados pela imprensa. “Os Estranguladores”, de Francisco Marzullo, foi o primeiro sucesso com mais de 800 exibições no Rio. Os filmes “cantados” surgiram em 1909: atores dublando-se ao vivo, por trás da tela.

Os cinejornais, filmagens de festas, como o carnaval, jogos de futebol, etc, começaram a ser produzidos a partir de 1916, caracterizando o cinema cavação. Muitas dessas filmagens eram encomendadas e misturavam jornalismo com propagandas (daí vem a origem do termo cavação, negócio suspeito, ilícito). Também foram produzidos filmes de pequena duração em Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Recife, Manaus e Porto Alegre.

Com a chegada dos filmes norte-americanos, isentos de taxas alfandegárias, os filmes brasileiros começam a ter dificuldades de exibição e, conseqüentemente, uma queda na produção. Porém, os filmes hollywoodianos enfrentam dificuldades para entrar no mercado devido à língua, o que garantiu ao cinema brasileiro uma rápida e boa fase no começo dos anos 30.

Pioneiro na transição do cinema mudo para o falado, o mineiro Humberto Mauro é considerado um dos mais importantes diretores da história do cinema nacional. Ele fundou, em 1925, a Febo Filmes do Brasil S/A, conseguindo sobreviver da produção de filmes durante cinco anos. Em 1929, Luiz de Barros cria o primeiro filme sonoro brasileiro, a comédia “Acabaram-se os otários”. Atraídos pela idéia de abordar temas brasileiros com a técnica do melhor cinema mundial, empresários paulistas se associam ao engenheiro Franco Zampari na Vera Cruz, uma grande produtora, com padrões de Hollywood.

No início da década de 40 são produzidos diversos filmes. Assim como outras empresas, a Vera Cruz tinha problemas quanto à distribuição dos filmes, e foi à falência. Com roteiros ingênuos, tramas divertidas, e grandes nomes como Oscarito, Grande Otelo e Emilinha Borba, as Chanchadas fizeram muito sucesso nos anos 40, aumentando a bilheteria dos cinemas brasileiros.

Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça; a construção “da estética da fome”. Assim Glauber Rocha definiu os instrumentos do cinema novo, que surgiu por volta de 1963, mostrando conflitos políticos e sociais do Brasil. Inicialmente, a miséria nordestina e o trabalhador rural foi o tema dos filmes, com destaque para Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos, um dos precursores. Depois, predominaram temas urbanos. Com a ditadura militar e o AI-5, o cinema novo passa a abordar a História e as projeções do país.

Em 1969, com a criação da Embrafilme, o Estado começou a financiar a produção. Em 1970, surgiu a Pornochanchada, um gênero que trazia elementos da Chanchada e de erotismo. Esse gênero fez muito sucesso principalmente devido à lei que obrigava as salas a exibirem uma cota de filmes nacionais. Muitos atores que são famosos hoje iniciaram suas carreiras nesse tipo de cinema, que, em relação ao estrangeiro deixava muito a desejar no tocante à qualidade do som e da iluminação.

A partir dos anos 80, o curta-metragem brasileiro chega à maturidade e com uma nova geração de cineastas. O festival de Gramado de 1986, com o empate de três filmes na categoria de melhor filme com Ma Chê Bambina, de A S Cecílio Neto, O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, de José Pedro Goulart e Jorge Furtado, e A Espera, de Maurício Farias e Luis F. Carvalho foi o marco para a confirmação desta categoria no espaço cinematográfico brasileiro. Estes filmes mostravam um Brasil diferente. Seria a redescoberta do cinema brasileiro.

Depois da extinção da Embrafilme, durante o governo de Fernando Collor de Mello, o cinema brasileiro quase acabou e só conseguiu se reerguer após a criação da Lei do Audiovisual, que ajudava financeiramente os que investiam em cinema. Com o incentivo dessa nova lei, os filmes voltaram a ser produzidos no Brasil. O primeiro sucesso cinematográfico brasileiro pós-Lei do Audiovisual foi “Carlota Joaquina”, de Carla Camurati, lançado em 1995. Em seguida, também em 1995, o filme “O Quatrilho” de Bruno Barreto concorreu ao Oscar.

O Oscar de 1995 foi um grande impulso para o cinema brasileiro, já que abriu as portas para tecnologias avançadas (comparadas às estrangeiras) e conquistou grande espaço na TV. Com isso, mais filmes começaram a ser produzidos e o brasileiro acabou se reaproximando do seu cinema. Filmes como: Cidade de Deus (Fernando Meirelles) Central do Brasil (Walter Salles) e Carandiru (Hector Babenco) tiveram grande repercussão nacional e internacional. Porém, o interesse geral dos brasileiros por estes filmes está exatamente no fato de estarem presentes nas listas estrangeiras de melhores filmes. Grande parte das pessoas em nosso país acreditam que o que vem de fora ou o que é valorizado lá fora, nos países desenvolvidos, é o que tem valor e merece prestígio. O problema de público no cinema, não é só de investimento. “É reflexo de décadas de supervalorização do que vem de fora, desde produtos manufaturados até produtos culturais”, afirma a professora da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisadora do grupo Olho (Laboratório de Estudos Audiovisuais), Critistina Bruzzo, em entrevista ao site Cinemando em 2002.

Distribuição, salas de exibição, ingressos a preços nada populares são alguns dos problemas mais freqüentes que o cinema brasileiro precisa enfrentar. O jornal  Folha de S. Paulo, em 01 de novembro de 2006, traz uma matéria que diz que os filmes brasileiros agradam nos festivais, mas a falta de distribuição pode condená-los a nunca estrearem. Quando a categoria é a dos documentários, a situação é ainda pior: 7 dos 15 filmes selecionados para o festival paulista de 2006 não possuem, sequer, previsão de lançamento.

Além dessa produção cinematográfica “comercial” brasileira, há o chamado cinema cultural que é aquele autoral e independente, que difere do modelo estabelecido pela indústria do cinema, pois tem como princípio modificar a linguagem cinematográfica. Embora esta seja uma qualificação muito interessante e difundida por ter a ousadia da experimentação da linguagem, a jovialidade, a diversidade temática e a revelação de novos talentos como principais características, não se podem encontrar relatos a respeito da evolução do assunto. De tal maneira que, não há como reportarmos uma evolução histórica específica do cinema alternativo nacional.

 

 

Para esclarecer as dúvidas sobre o cinema alternativo e sua diferença para o comercial, conversamos com Léo Cunha, professor do Uni-bh.

BMSC: Qual é a diferença entre o cinema comercial e o alternativo, que também recebe outros nomes?

Léo Cunha: Quando a gente fala em cinema alternativo, a palavra quer dizer que é alternativo a alguma coisa. Normalmente é uma nomenclatura um pouco vaga, mas está querendo dizer que foge um pouco dos padrões estéticos, temáticos do cinema mais comercial, do cinema que segue um padrão hollywoodiano, um cinema que tem uma preocupação comercial acima de tudo. Então eles chamam alternativo nesse sentido, voltado para uma proposta mais estética, mais artística, mais autoral. É um nome um pouco impreciso. Alguns chamam de cinema independente, que não é exatamente a mesma coisa, o cinema independente é aquele cujo financiamento é buscado fora das principais fontes de financiamento de produção dos outros cinemas. Muitas vezes ele e os alternativos acabam sendo parecidos, mas você pode até encontrar dentro do cinemão algum filme que você fala que é um filme alternativo, é um filme que mesmo sendo feito dentro dos padrões, dentro de um grande estúdio, ele pode ter uma estética diferente. Você pode dizer que ele é um filme alternativo. Já o cinema independente não, sua produção é necessariamente fora desse esquema de financiamento milionário dos grandes estúdios.

BMSC: No Brasil, esse tipo de cinema aborda a diversidade cultural das regiões e os costumes do povo?

Léo Cunha: É isso. Alguns falam muito de classes menos favorecidas, favelas ou de lugares que não habitam muito a grande mídia, e que a própria televisão não mostra.

BMSC: De onde vêm os recursos para produzir os filmes alternativos?

Léo Cunha: Um dos caminhos para os filmes alternativos, independentes se viabilizarem financeiramente é tentar uma lei de incentivo. Existem leis federais, estaduais e até municipais, mas como geralmente o cinema envolve um custo maior, ele é mais contemplado nas leis federais.

 

 

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